A Arca do Gosto é um catálogo mundial do Slow Food para localizar, descrever, divulgar e proteger produtos ameaçados de extinção, mas que se encontram ainda vivos, com potencial produtivo e comercial. A lista, dividida em categorias como raças animais, frutas e verduras, reúne hoje mais de 2000 ingredientes de diversos países, sendo quase 50 brasileiros, que vão dos mais conhecidos, como o pinhão, aos menos, caso do babaçu e do caranguejo aratu. Para estimular seu consumo, o Slow Food Brasil promove, entre os dias 8 e 18 de outubro, a primeira edição do Festival Arca do Gosto em São Paulo. Quatorze dos principais restaurantes da capital paulista alinhados com a filosofia do movimento, que valoriza o alimento bom, limpo e justo, se engajam para apresentar algumas dessas riquezas nacionais em pratos especiais, a maioria inédita. “A Arca do Gosto tem um potencial enorme no Brasil, ainda pouco explorado. Tem países da América Latina que defendem e mostram a própria biodiversidade com grande orgulho. O Brasil precisa defender sua cultura alimentar com o mesmo orgulho, a partir dos alimentos que estão ameaçados de extinção, promovendo sua produção e consumo”, acredita Carlo Petrini, fundador do Slow Food.
Participam do festival os restaurantes Brasil a Gosto, com a Castanha de Baru, o Capim Santo, com o Aratu, o Dalva e Dito, utilizando o Umbu, o Epice, com o Néctar de Abelhas Nativas, o Espaço Zym, que irá preparar um prato com o Babaçu, e o Brace Bar & Griglia, que fica dentro do Eataly, representando o Parmesão da Mantiqueira. Completam a lista o Esquina Mocotó, com o Pirarucu, o Jiquitaia, com o Arroz vermelho, o Lá da Venda, com o Queijo da Serra da Canastra, o Maní, com a Araruta, o Micaela, representando o Piracuí, o Tête à Tête, que irá usar a Ostra da Cananéia, o Tordesilhas, com o Pequi, e o Tuju, com o Cambuci.
Veja os pratos de cada chef no Festival Arca do Gosto:
A chef Lígia Karasawa, do Brace Bar & Griglia, irá preparar o Gnocchi de batata com queijo parmesão da Mantiqueira:
A chef Claudia Mattos, do Espaço Zym, utilizará a farinha de babaçu no Brownie salgado de babaçu e taioba, prato principal que faz parte do menu do almoço, que ainda inclui couvert, salada e sobremesa:
Entusiasta da castanha do baru, Ana Luiza Trajano, do Brasil a Gosto, apresenta o Peixe do dia grelhado com crosta de baru, purê de banana-da-terra e vinagrete de laranja-lima:
Morena Leite, do Capim Santo, resgata o caranguejo aratu em seu Mil folhas de tapioca com aratu, somente no jantar:
Alex Atala, do Dalva e Dito, escolheu o umbu, que se transforma na sobremesaCoco, umbu e rapadura:
O chef Alberto Landgraf, do Epice, elegeu o Néctar de Abelhas Nativas, que aparece também como doce na Compota de pera, burrata de búfala, tomilho limão, mel de uruçu:
Rodrigo Oliveira, do Esquina Mocotó, apresenta o Pirarucu, cozido de feijão caupi, milho verde e paio:
O chef Marcelo Corrêa Bastos, do Jiquitaia, irá preparar o Arroz vermelho com abóbora e camarão:
A chef Heloisa Bacellar, do Lá da Venda, escolheu o queijo da Serra da Canastra, que é usado no preparo do Bombocado de queijo da Canastra e mandioca:
Helena Rizzo e Daniel Redondo, do Maní, grandes fãs da farinha de araruta, servem os já clássicos Nhoques de Mandioquinha e Araruta com “dashi” de tucupi:
O chef Fábio Vieira, do Micaela, apresenta a Torta salgada de piracuí com salada de mini folhas picantes, com rúcula selvagem, folha de mostarda, azedinha e mini agrião:
O chef Gabriel Matteuzzi, do Tête à Tête, usa a Ostra da Cananéia nas Ostras em 4 versões: Ostras ao gim-tônica, Cevichada de Ostras, Tempurá de ostras e shissô, Gratinadas ao Sabayon de Champanhe:
A chef Mara Salles, do Tordesilhas, optou pelo pequi no Polvo, feijão de corda com pequi, legumes e farofa d’água no azeite de pequi produzido pelos índios da nação Kisêdjê do Xingu, servido somente no jantar de terça a sábado:
O chef Ivan Ralston, do Tuju, usa o Cambuci na Sardinha, Cambuci e pimenta de cheiro (um dos três tira-gostos do Menu da Estação, servido no jantar, que ainda inclui uma entrada, um prato principal e uma sobremesa):
Ao adotar os produtos da Arca, os chefs de cozinha estão contribuindo para a salvaguarda do modo de vida e valorização das comunidades de produtores que se ocupam de cuidar e preservar diariamente nossa biodiversidade. “A Arca se faz efetiva na medida em que sai do papel, quando estes produtos são procurados, comprados e consumidos, entrelaçando culturas e colocando todos em defesa dos nossos patrimônios naturais”, explica Katia Karam, antropóloga e coordenadora da Comissão Brasileira da Arca do Gosto. O Brasil tem uma enorme variedade de espécies e culturas alimentares e o Slow Food deseja englobar cada vez mais produtos do país na Arca do Gosto, buscando estimular o reconhecimento e a conservação de nossa sociobiodiversidade.
Via: Slow Food Brasil